Evite dizer "mentiras inocentes" para as crianças. Elas podem não ser tão inofensivas ????
Sim, a mentira pode ser mais rápida na hora de contornar situações incômodas, mas ela também pode evitar momentos que poderiam ser de um importante aprendizado. A especialista dá como exemplo o caso de um brinquedo ou outro item que a criança peça em uma loja. “O que os pais podem falar, por exemplo, ‘gastei muito essa semana e hoje não vai dar para comprar’. Não necessariamente é uma inverdade. E ainda ajuda na questão da educação financeira, que é superimportante”, explica. Pois é, trocando a mentirinha do “não tenho dinheiro” por uma explicação verdadeira, é possível que seu filho comece a entender conceitos da economia e queira juntar seu próprio dinheiro.
Outro caso comum, principalmente para quem trabalha longe de casa ou tem compromissos em horários alternativos, é ter que deixar os filhos com parentes. Dependendo da idade da criança, ela pode não aceitar tão bem assim essa situação. O ideal, no entanto, é não enganá-la dizendo que já volta. Essa história pode resolver o seu problema na hora, mas vai causar outros depois. “Dependendo da idade, a criança ainda não tem essa percepção de passagem do tempo, que pode ficar distorcida ao ouvir que quando demora é rápido, por exemplo. Então é melhor dizer a verdade”, destaca Ana. Para ela, uma boa sugestão para escapar das mentiras é falar: “vai passar rápido e você nem vai perceber”.
Facilitando para quem?
Ana Canosa destaca que não se deve negligenciar a inteligência dos filhos. Por isso, ela não considera nada benéfica a tradicional história de que a cegonha entrega bebês em casa e lembra que esse tipo de fantasia pode apenas reforçar tabus. “Até existem temas que já foram tabus e geraram essas mentirinhas clássicas, por exemplo, a sexualidade. Mas hoje em dia não tem mais isso, porque com três anos a criança já sabe que o bebê fica na barriga da mãe. Assim, já entende que alguma coisa não encaixa”.
A terapeuta destaca ainda que os pais podem evitar as verdades não por conta da dificuldade dos pequenos entenderem determinada questão, mas porque eles não conseguem tratar o assunto de forma direta. “As crianças vão perguntando para os pais assuntos que não entendem direito. Então você vai colocando as coisas conforme elas vão perguntando e o papel dos pais é ajudar nessa compreensão”.
Quando alguém morre, por exemplo, falar que essa pessoa foi para o céu ou que virou uma estrela é uma forma lúdica de lidar com uma questão complicada. “A criança pode até saber que não é totalmente verdade, mas, de um jeito ou de outro, entende porque a mãe fala isso. A partir dos três anos, já pode ir colocando essa e outras coisas de um modo mais claro, mas sempre lembrando de avaliar o que a criança consegue entender”, explica Ana.
Mentira ou fantasia
Papai Noel, Fada do Dente e Coelho da Páscoa são personagens muito queridos das crianças, mas que vivem apenas na fantasia. Apesar disso, eles têm carta branca na infância, pois, segundo Ana, a fantasia é um elemento bem-vindo para deixar o mundo mais leve e divertido para as crianças.
E qual a hora certa de contar a verdade sobre esses personagens? De acordo com ela, não existe uma idade indicada, mas a própria vida vai dando pistas. “O problema é que hoje em dia as crianças têm muita informação da mídia e a informação pode vir por outros meios, então acabam descobrindo mais cedo ou com os amigos”, destaca a terapeuta. Isso não quer dizer, porém, que não dê para manter a fantasia.
Quando a criança descobre quem é o Papai Noel da família, uma opção para retomar a históri é dizer que, como há muitas crianças no mundo, cada família tem um para não deixar o original sobrecarregado. E o mesmo vale para a Fada do Dente.
Por que não?
Principalmente quando chegam à adolescência, os filhos pedem cada vez espaço e liberdade e sair com os amigos está na lista de prioridades. “Eu acho que sempre há uma justificativa para deixar ou não. Se você parar para pensar, sempre há, e os pais sempre podem assumir a responsabilidade”, explica Ana Canosa. “Quando você diz ‘eu não quero, porque eu estou irritada’ não é uma resposta racional. Respostas emocionais também podem ser dadas, desde que sejam verdadeiras”, complementa a terapeuta.
De acordo com ela, realmente existem respostas que não são concretas, da ordem do objetivo. “Quando você vai responder a um filho que quer ir para a balada, esse ‘não’ é completamente subjetivo. Os pais têm que pensar porque não deixam o filho fazer as coisas e fazer com que ele entenda. Sair pela tangente e dizer que vai pensar é uma boa opção para, inclusive, pensar melhor na resposta que vai dar”, finaliza Ana.
Beatriz Coppi
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